“Cinco vezes favela agora por nós mesmos” já era antes de ser, um dos filmes mais importantes desta safra. Eu explico. Tive a oportunidade de assistir o doc sobre a produção e realização – e é doc e não making off, como me alertou quem me mostrou o filme e como está no título -. E por quê isso? Porque apresenta a construção de um projeto maior, ou melhor, projetos maiores: de vida, de sonhos, de lutas pra sair do lugar comum da pobreza e preconceitos. Os meninos e meninas que realizam o filme trazem desejos e ambições que me remeteram aos anos 70 e 80, quando menino, acreditava que poderia mudar o meu mundo e por conseqüência, os mundos à minha volta na Baixada Fluminense. Eles agem assim, como artistas, técnicos e produtores. Acreditam que aquilo não é a âncora que garantirá a estabilidade, mas o foguete que os levará não se sabe onde.
Ainda não assisti ao filme e enquanto escrevo este texto, leio que ele – o filme – levou pra casa, do Festival de Paulínia, cinco prêmios: Melhor Filme ficção, Melhor Ator coadjuvante -Marcio Vitto; Melhor Atriz coadjuvante – Dila Guerra, ambos do episódio “Acende a Luz”; Melhor Roteiro-Rafael Dragaud e Melhor Trilha Sonora -Guto Graça Melo. Não é uma lindeza pra vida de todo mundo, incluindo aí a minha, a sua e de quem mais acredita, que basta uma conjunção de fatores que poderíamos chamar “do bem” - para metaforizar e não contrapor ao mal -, onde profissionais de altíssimo nível, junto com jovens inexperientes na carreira, realizem uma obra de arte tão premiada? E isso merece um parágrafo especial.
Era para colocar toda a ficha técnica aqui, mas como não seria prático na leitura e ela vai estar nos cinemas mais próximo de vocês, o valor icônico e também simbólico fica para Cacá Diegues, que do alto dos seus 70 anos, dá à sociedade brasileira, através da sua interferência na vida destes meninos e meninas, um legado de valores que nem o dinheiro nem o poder podem comprar: ética, luta, paciência, atenção, conhecimento, saber e mais o que a sensibilidade de quem observa pode captar, trazer pra dentro de si e trocar com o outro. Neste caso, meninos e meninas “adotados” para cumprirem os “12 trabalhos de Hércules”, tamanha devem ter sido as dificuldades de realização.
Assisti a “primeira” versão de “Cinco Vezes Favela“ há muito tempo e não vou me arriscar a fazer comparações, pois a memória me trairia, com certeza; mas lembro de ter lido que a grande diferença - ou semelhança, quem sabe? - está nas “direções trocadas dos olhares realizadores” e eu concordo: no primeiro, jovens sonhadores de classe média, desejando uma sociedade mais justa e um cinema mais próximo da realidade, e de fora pra dentro. Nesta “segunda versão” também estão ali também os jovens sonhadores, a mesma sociedade partida e um cinema onde eles poderiam estar exclusos por questões econômicas e sociais. Só que o olhar agora é de dentro pra fora. Há o simulacro, mas há também a saída da caverna, onde as sombras são projetadas pra fora e não pra dentro e para que o mundo exterior entenda e aceite a verossimilhança do outro e o compreenda.
Estou ansioso para ir a sala de cinema mais próxima para rir, chorar, zangar e acima de tudo, me emocionar com este filme, que pra mim já é uma das realizações mais importantes do cinema nacional.
Por favor, desliguem seus celulares e boa sessão!