sexta-feira, 23 de julho de 2010

cincovezescinco



“Cinco vezes favela agora por nós mesmos” já era antes de ser, um dos filmes mais importantes desta safra. Eu explico. Tive a oportunidade de assistir o doc sobre a produção e realização – e é doc e não making off, como me alertou quem me mostrou o filme e como está no título -. E por quê isso? Porque apresenta a construção de um projeto maior, ou melhor, projetos maiores: de vida, de sonhos, de lutas pra sair do lugar comum da pobreza e preconceitos. Os meninos e meninas que realizam o filme trazem desejos e ambições que me remeteram aos anos 70 e 80, quando menino, acreditava que poderia mudar o meu mundo e por conseqüência, os mundos à minha volta na Baixada Fluminense. Eles agem assim, como artistas, técnicos e produtores. Acreditam que aquilo não é a âncora que garantirá a estabilidade, mas o foguete que os levará não se sabe onde.

Ainda não assisti ao filme e enquanto escrevo este texto, leio que ele – o filme – levou pra casa, do Festival de Paulínia, cinco prêmios: Melhor Filme ficção, Melhor Ator coadjuvante -Marcio Vitto; Melhor Atriz coadjuvante – Dila Guerra, ambos do episódio “Acende a Luz”; Melhor Roteiro-Rafael Dragaud e Melhor Trilha Sonora -Guto Graça Melo. Não é uma lindeza pra vida de todo mundo, incluindo aí a minha, a sua e de quem mais acredita, que basta uma conjunção de fatores que poderíamos chamar “do bem” - para metaforizar e não contrapor ao mal -, onde profissionais de altíssimo nível, junto com jovens inexperientes na carreira, realizem uma obra de arte tão premiada? E isso merece um parágrafo especial.

Era para colocar toda a ficha técnica aqui, mas como não seria prático na leitura e ela vai estar nos cinemas mais próximo de vocês, o valor icônico e também simbólico fica para Cacá Diegues, que do alto dos seus 70 anos, dá à sociedade brasileira, através da sua interferência na vida destes meninos e meninas, um legado de valores que nem o dinheiro nem o poder podem comprar: ética, luta, paciência, atenção, conhecimento, saber e mais o que a sensibilidade de quem observa pode captar, trazer pra dentro de si e trocar com o outro. Neste caso, meninos e meninas “adotados” para cumprirem os “12 trabalhos de Hércules”, tamanha devem ter sido as dificuldades de realização.

Assisti a “primeira” versão de “Cinco Vezes Favela“ há muito tempo e não vou me arriscar a fazer comparações, pois a memória me trairia, com certeza; mas lembro de ter lido que a grande diferença - ou semelhança, quem sabe? - está nas “direções trocadas dos olhares realizadores” e eu concordo: no primeiro, jovens sonhadores de classe média, desejando uma sociedade mais justa e um cinema mais próximo da realidade, e de fora pra dentro. Nesta “segunda versão” também estão ali também os jovens sonhadores, a mesma sociedade partida e um cinema onde eles poderiam estar exclusos por questões econômicas e sociais. Só que o olhar agora é de dentro pra fora. Há o simulacro, mas há também a saída da caverna, onde as sombras são projetadas pra fora e não pra dentro e para que o mundo exterior entenda e aceite a verossimilhança do outro e o compreenda.

Estou ansioso para ir a sala de cinema mais próxima para rir, chorar, zangar e acima de tudo, me emocionar com este filme, que pra mim já é uma das realizações mais importantes do cinema nacional.

Por favor, desliguem seus celulares e boa sessão!

3 comentários:

Marcio Allemand disse...

Eu confesso que estava com os pés bem atrás em relação a este filme. Não sei, tive a impressão de que, mais uma vez, os cineastas classe média estavam querendo se aproveitar da cruel realidade dos meninos das favelas. Mas confesso tb que, lendo seu texto, fiquei com os pés mais a frente e com vontade de correr para o cinema mais próximo.

Puxadinho disse...

Você precisar ver este Doc. Aí vai entender de vez o que digo.Tks!

Edney Martins disse...

Antes de tudo, bom te ver de volta no Puxadinho, porque teus textos fazem falta. Adorei e vou comprar logo essa pipoca e aproveitar. Abraço.